Party: LuXX #4 / I Was Here: Tiago b2b Tom Of England
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Em 20 anos, muitas foram as noites em que fomos salvos, em que aprendemos, dançámos e sentimos com os nossos DJs residentes. Por isso e tanto mais, quisemos dar-lhes ainda um pouco mais de tempo, para também nos confiarem o que lhes vai na alma, com a ajuda de alguém em quem eles também confiam. É isso que são as noites I Was Here, o nosso obrigado a quem aqui está sempre, do princípio ao fim, uma folha em branco para que, em back-2-backs especiais com convidados seus também eles especiais, escrevam um bocadinho mais desta história que conta um pouco de Lisboa ao mundo e conta o mundo a Lisboa. Quem melhor para nos trazer um novo amanhecer do que aqueles que aqui já viveram tantos amanheceres?
Texto do Novo Major sobre o Tiago:
O Tiago. Lembram-se de Lisboa nos anos 90? Conseguem perceber o que mudou, na música, na forma de a apresentar, nos locais onde é apresentada, no espírito com que é apresentada, no trabalho manual necessário para a pôr em prática de forma absolutamente sem compromisso, até na aproximação a outras fontes criativas no estrangeiro e efectivo estabelecimento de uma rede regular? Na minha visão particular, o Tiago tornou tudo melhor.
Quando me convidou para acrescentar uns sons com gira-discos em concertos dos Loosers, eu não sabia se estava a conviver com um amigo ou um ídolo. Quando tocámos discos juntos eu aprendia. Ele pediu-me para o substituir numa festa, uma vez. Não correu bem. Não era o Tiago. O que rapidamente me pareceu uma ideia de livre pensamento na pista de dança tornou se no grande qualificador do seu trabalho como DJ. No Lux, por mais de uma década, as icónicas noites Disco Jaded, U-Night e Trust têm sido o grande motor de pesquisa do próprio Tiago, onde ele testa, experimenta, evolui, onde inclusivamente se questiona a si próprio, onde nós percebemos com total clareza que um DJ não é uma jukebox, há uma personalidade em acção. Tudo moldável, no momento: ele, nós.
Também pode ser complexo e ao mesmo tempo na nossa cara. Os Dezperados (Tiago e Nuno Rosa) cortavam, misturavam, sobrepunham música, mascaravam-se, massacravam-se pela Festa, reuniam um consenso impressionante com opções radicais de ruptura com a linearidade habitual nos clubes. Tinham fãs. E seguidores. Formaram DJs no terreno das festas, esses DJs passaram a fazer as suas festas, essas festas sustentaram um lado punk na noite de Lisboa. Olho do furacão: Lux. Um dia acabou, ou ficou em pausa. Provavelmente estava tudo dito.
Assim como outro nome fundamental na história do Lux (Zé Pedro Moura), a força especial do Tiago, a noção de ritmo, a abrangência, tudo é filtrado e transformado pela sua experiência, prévia e continuada, como músico. O caos controlado dos Loosers, ali junto ao início do século XXI, foi decisivo para libertar o rock feito em Portugal de um sistema de referências geralmente apertado. Era algo que não soava a ninguém, nem sequer a nosso. Mais uma vez, material eternamente moldável no momento em que acontece a música. Os shows improvisados da banda, a regularidade dos mesmos e o impacto perceptível transformaram a cena de Lisboa. Mais gente começou a tocar em mais sítios fora do comum e com mais liberdade estética. Os Loosers criaram o seu circuito e, lá fora, uniram-se a uma tropa libertária - se o pudermos dizer - sem eira nem beira. E trouxeram essa gente cá. Tiago fez uma editora - Ruby Red - para juntar essas pessoas a outras de cá. Como ele dizia, "Tudo
bom!"
Em paralelo, e já em processo de mutação, o álbum de estreia de Gala Drop em 2007 partiu de uma base sem nome. Lembro o Tiago e o Nelson, no chão, com instrumentos e outros objectos em cima de uma manta, a mostrar coragem em explorações sónicas à frente do público. No álbum juntou-se mais gente e também um sentimento ambivalente (sempre por resolver na alma portuguesa) de desenraizamento e simultaneamente pertença a algo maior e global, fruto da experiência de inúmeras e distantes viagens no nosso ADN colectivo. Talvez. Mas mais uma vez era nosso. E de novo comunicou correctamente com as pessoas certas, incluindo outros DJs, músicos e editores. Grande capital aplicado no Lux, em crescimento e acumulação. Todos ganham novo fôlego nessa encruzilhada social onde as pessoas se encontram. Umas tocam-se, outras não. U-night toda a gente. Isso é lindo. E para ele não é negociável.
Em 2009, quando achou que tinha afinado um outro sentido musical, entregou a sua música a várias editoras com quem já se relacionava enquanto DJ. Depois fez a Interzona 13 em 2013. Integrou Spirit Bear Mezcal Ensemble (uma espécie de Loosers galácticos) com Tom Of England e outros. Colaborou com pessoas, mas já o fazia antes desde as primeiras semanas em Lisboa com Kings Of The Metal (1994?). Foi ao Japão e veio. Várias vezes. Enquanto escrevo, prepara em Lisboa uma exposição com trabalhos gráficos do Márcio Matos. Mas ele também desenha. E tudo informa tudo, ou seja, o que ouvimos no Lux quando o Tiago toca é beneficiado pelos diferentes ares que respira. Não há um estilo. Como se define o seu estilo? Pessoa que-vive? Isso também nós. Mas nós não o fazemos. E o Lux? Faz 20 anos.
#luXXfragil